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d’Alembert, Jean Le Rond — ELÉMENS DE MUSIQUE THÉORIQUE AT PRATIQUE, SUIVANT LES PRINCIPES DE M. RAMEAU, &c. Lyon. ...
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d’Alembert, Jean Le Rond — ELÉMENS DE MUSIQUE THÉORIQUE AT PRATIQUE, SUIVANT LES PRINCIPES DE M. RAMEAU, &c. Lyon. Chez Jean-Marie Bruyset. 1766. XXXVI-236 (4) pp. + 10 grav. desd. 12,2 cm x 19,7 cm. E.
« cacher l'art par l'art même ».
— Jean-Philippe Rameau
«
On peut conſidérer la Muſique, ou comme un Art qui a pour objet l’un des principaux plaiſirs de ſens, ou comme une ſcience para laquelle cet Art eſt réduit en principes. »
— D’Alembert, no
Discours Préliminaire
Este importante livro de teoria musical, aqui numa raríssima « Nouvelle Édition » lionesa, « Revue, corrigée & considérablement augmentée », junta duas das mais altas figuras do iluminismo francês: o polímata Jean Le Rond d’Alembert (1717 — 1783) e o grande compositor e teórico musical Jean-Philippe Rameau (1683 — 1764).
A relação entre Rameau e d'Alembert foi complexa e passou por diferentes fases, marcada inicialmente por colaboração e respeito mútuo, mas que eventualmente se deteriorou e tornou em rivalidade intelectual, bem ao gosto do iluminismo.
Inicialmente, d'Alembert foi um grande admirador e defensor das teorias musicais de Rameau. Dá-se como exemplo o facto de d’Alembert, que apenas dois anos mais tarde embarcaria com Denis Diderot numa das mais extraordinárias aventuras intelectuais e editoriais da História, ter-se interessado inicialmente pela teoria musical em 1749, precisamente quando foi convidado a rever um texto submetido à Académie por Rameau. Este artigo, na verdade escrito em colaboração com Diderot, formaria mais tarde a base de um tratado do próprio Rameau, intitulado
Démonstration du principe de l'harmonie (1750). Inicialmente, d'Alembert escreveu uma crítica abonatória, elogiando o carácter dedutivo do autor como um modelo científico ideal.
Em 1752, o já enciclopedista dá à estampa este importantíssimo Élémens de musique théorique et pratique suivant les principes de M. Rameau, onde tenta explicar e sistematizar as teorias de Rameau sobre harmonia e «baixo fundamental» — a teoria de Rameau sobre a nota mais grave (ou baixa) que serve como base harmónica para um acorde, representando, assim, a sua raiz ou «fundamental» — de forma mais acessível, mas matematicamente rigorosa. D’Alembert argumenta, por exemplo, que a ideia de um corpo sonoro por si só não é suficiente para emanar a totalidade da música, o que entroncava com o que Rameau acreditava: que a música era uma ciência matemática e que possuía um princípio único a partir do qual todos os elementos e regras da prática musical poderiam ser aferidos.
Esta colaboração inicial foi benéfica para ambos: Rameau ganhou legitimidade científica para suas teorias através da associação com d'Alembert, um matemático e físico respeitado; e, por sua vez, d'Alembert demonstrou como os princípios matemáticos podiam ser aplicados à música: um método totalmente sistemático com uma estrutura de síntese fortemente dedutiva. A sua investigação sobre a vibração das cordas, por exemplo, revelou-se também fundamental para a física, consolidando-o como um dos seus pioneiros. D'Alembert conseguiu demonstrar que as vibrações de uma corda podem ser expressas através de uma equação com derivadas parciais, apresentando também a respectiva solução geral. Esta formulação matemática tornou-se historicamente significativa por constituir o primeiro exemplo conhecido da equação das ondas.
No entanto, com o tempo, surgiram divergências importantes entre ambos: d'Alembert começou a questionar alguns aspectos das teorias de Rameau, considerando-as excessivamente dogmáticas, e o compositor ficou bastante indignado com o que considerou interpretações erradas das suas teorias pelo seu até então amigo. Por volta de 1760, a relação estava seriamente rompida e crua, com Rameau a publicar ostensivamente críticas a estas interpretações de d'Alembert. Um ponto de ruptura significativo ocorreu quando d'Alembert e outros enciclopedistas criticaram as pretensões de Rameau de que suas teorias musicais revelavam princípios fundamentais da natureza. Esta disputa reflecte, em grande parte, não só o
fulcrum concernente à música, mas o espectro mais amplo das tensões entre diferentes correntes de pensamento que levariam ao inevitável desfecho finissecular que é por demais conhecido, na forma de uma grande revolução que mudaria para sempre o mundo.
Esta relação ilustra como as colaborações intelectuais durante o Iluminismo frequentemente envolviam dinâmicas complexas de respeito mútuo, apropriação de ideias e, quase sempre, uma rivalidade latente. Neste particular, foi também bastante feroz a rivalidade entre Rameau e Jean-Jacques Rosseau (1712 — 1778), que chegou a ter pretensões de compositor, obliteradas por Rameau e Voltaire, que se encontravam a colaborar num projecto.
Todavia, fora do seu papel como grande teórico da música e polemista do Século das Luzes, e pertencente à geração que doou à humanidade Johann Sebastian Bach, Telemann ou Handel, Jean-Philippe Rameau foi, a par deles, um dos expoentes da história da música ocidental e um génio de uma originalidade e criatividade inexcedíveis, ao ponto de dividir a sociedade francesa entre
Lullyistes — que seguiam os modelos franceses criados e consolidados por Jean-Baptiste Lully (1732 — 1687) — e os
Rameauneurs, que preferiam já a ruptura dos novos preceitos harmónicos. Compositeur du Cabinet du Roi a partir 1745, a influência da sua música reverberou por todo o continente europeu. Obras como
Les Indes galantes (1735),
Castor et Pollux (1737),
Dardanus (1739), ou as suas luminosas
Pièces de clavecin (1706; 1724; 1726 ou 1727); revelam formas absolutamente inovadoras e uma imaginação prodigiosa e incontida, sendo ainda hoje em dia peças gravadas pelos mais reputados ensembles especializados em música antiga em actividade.
Conserva as 10 gravuras desdobráveis
Muito bom estado geral de conservação. Exemplar com encadernação coeva em carneira e lombada ligeiramente nervurada e ornada com ferros a ouro; com pequenos sinais de manuseamento. Corte carminado. Miolo alvo e em papel sonante.
Extremamente raro e importante para a história da música ocidental. Belo exemplar.
Sugestões de audição da grande música de Jean-Philippe Rameau em interpretações historicamente informadas:
e

